quarta-feira, 20 de junho de 2012

Lula e Maluf: As Contradições da Política Materialista

Leonardo Matos
20 de Junho de 2012

A concepção espiritualista do Universo, adotada pela Doutrina Integralista, defende que o Ser Humano tem uma finalidade transcendental. A vida humana existe, ao mesmo tempo, com objetivos materiais imediatos e com finalidades sobrenaturais transcendentes, que estão além do mundo material e que devem influenciar a conduta dos homens enquanto andam sobre a Terra. O homem está na terra para buscar seu auto-aperfeiçoamento, o que lhe propiciará uma existência melhor após sua passagem neste plano material.

Por outro lado, a consideração materialista do Universo resulta, em última análise, na falta de sentido para a existência do Ser Humano. Quando se considera o Ser Humano simplesmente como uma máquina biológica, um amontoado de átomos e moléculas, o sentido da existência torna-se, darwinisticamente, o da disputa pela sobrevivência.

Da mesma maneira que essa dicotomia se manifesta na questão da finalidade da vida humana, se manifesta também nas finalidades das atividades humanas, como a política. A atividade política está intimamente ligada com a concepção de Universo adotada por uma sociedade. Como escreve Plínio Salgado na primeira página do livro Quarta Humanidade:

“A concepção do Estado e da Sociedade está ligada à concepção do próprio Universo (...). É do sentido das finalidades humanas que procede o pensamento da organização social. É do pensamento da organização social que decorre a orientação política, com influência, por sua vez, da Sociedade e no Estado.” [1]

A política, inserida na concepção espiritualista do universo, torna-se ferramenta para que os Seres Humanos possam trabalhar para melhor atingir suas finalidades sobrenaturais. Nesse contexto, os objetivos políticos imediatos devem vincular-se necessariamente ao objetivo maior da vida humana, que se encontra fora dela. As atitudes humanas então, inclusive no campo político, devem possuir uma vinculação coerente com a ética, o que lhes propicia o auto-aperfeiçoamento.

No entanto, no contexto materialista da história, onde a vida humana perde sua finalidade transcendental, a política perde também sua finalidade superior, passando a ser simplesmente a “arte de manter-se no poder”, uma disputa darwiniana pela sobrevivência política. Assim, de mera ferramenta, a atividade política passa a ser fim em si mesmo e os objetivos imediatos da política são apenas aqueles relacionados com a própria atividade política. A manutenção do poder figura como principal meta da atividade política no contexto materialista. É interessante ler outra passagem do livro Quarta Humanidade para observar o que escreveu Plínio Salgado sobre esse a ausência de finalidade:

“A atitude antifinalista das filosofias burguesas criou o grande sentido de abstenção, de comodismo fatalista e de conformismo estóico. Impossibilitada de viver sem a contribuição do espírito, que é uma das três manifestações essenciais do homem, essa civilização criou, como impulsionadores da marcha política, pobres fetiches e deuses débeis, que deveriam coonestar vagos princípios de moralidade, de harmonia social. A religião da Humanidade de Comte ou a filantropia do pragmatismo americano não passam de superstições destinadas a substituir o elemento espiritual abandonado”. [2]

Infelizmente a realidade que nos cerca atesta de forma melancólica essa dicotomia. Nossa civilização materialista é de forma cada vez explícita a realização dos princípios materialistas levados às últimas consequências, em todos os campos, principalmente no campo político.

O modelo idealizado de partido político é aquele que reúne um grupo de pessoas de pensamento semelhante, com um projeto para a construção da Nação e com princípios e diretrizes definidas para atingir um objetivo de bem social. Na época da criação dos sistemas partidários, acreditava-se que os partidos poderiam conduzir os cidadãos ao poder. Desta forma, seria natural que existissem diferentes partidos, sob óticas ideológicas diferentes e que se colocassem em oposição, travando um debate sadio para o progresso do pensamento político de uma nação.

Infelizmente, a concepção materialista do Universo, que esvazia de sentido a vida humana e transforma a atividade política na habilidade de manter-se no poder, faz com que esse modelo idealizado de organização partidária perca também seu valor. Os partidos e as ideologias, dentro da concepção materialista, são meros instrumentos para que se atinja objetivo único, que é o poder.

No Brasil, isso vem sendo demostrado de forma cada vez mais explicita e ultrajante. Foi veiculada recentemente a noticia da aliança entre o (auto intitulado) Partido dos Trabalhadores (PT), do ex-presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva e o Partido Progressista (PP), do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf. E para provocar ainda mais a perplexidade de todos, os dois personagens aparecem juntos em uma foto, ao lado do pré-candidato petista à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, em aparente harmonia.[3]

Aos que adotam uma concepção espiritualista e coerente do mundo e da política, a contradição desta aliança é evidente. Enquanto Maluf era filiado à ARENA, nos tempos do regime civil-militar de exceção, Lula era um sindicalista de extrema esquerda, fundador do PT e opositor do regime então vigente. Após a redemocratização, o aparente antagonismo político entre os dois personagens da política brasileira continuou, sendo demonstrado em diversas disputas e debates eleitorais de forma firme e contundente.

Porém, as ideologias materialistas não têm esta coerência lógica que faria sentido para a maioria das pessoas. O fictício antagonismo político-ideológico entre o Sr. Maluf e o Sr. Lula serviu por muito tempo mas, agora não lhes serve mais. Serviu até o preciso momento em que a aliança tornou-se mais vantajosa para a obtenção e manutenção do poder.

Eles mesmos admitem, de maneira absurdamente cínica, esse fato. Para o presidente nacional do PT, Rui Falcão, não há constrangimento no apoio de Maluf: - "Há 12 anos éramos rivais e hoje somos aliados". Falcão disse ainda que "o Brasil mudou, mudou o eleitorado e mudaram os partidos que resolveram apoiar nosso projeto nacional, como é o caso do PP." [4]

É notório e escancarado que, justamente pelo fato de o objetivo principal da política materialista ser a tomada e a manutenção do poder, é que as mudanças no Brasil fazem com que alianças ideologicamente antagônicas sejam fechadas. É o materialismo político coroado e elevado como à modus operandi.

As contradições da política materialista não se resumem aos seus personagens midiáticos. Até mesmo nos bastidores a promiscuidade ideológica decorrente dos princípios materialistas é vista com naturalidade. Um exemplo disso é o professor de sociologia da Universidade de São Paulo, o Sr. Ricardo Musse, o qual ministra aulas de sociologia marxista e participa da elaboração do programa de governo do candidato petista Fernando Haddad. Ele disse a um jornal de grande circulação em São Paulo que “o tempo de TV do PP é relevante e que não tem importância a foto com o aperto de mão entre Maluf e o ex-presidente Lula, ao lado do pré-candidato do PT.“ Nada mais coerente sob a ótica materialista: se o poder é o objetivo final, o tempo na TV é mais importante do que a ideologia e a história política dos partidos e dos personagens.[5]

Nós, espiritualistas, Integralistas, temos a plena consciência de que estas contradições aparentes da política brasileira são apenas o resultado inevitável e lógico da adoção da concepção materialista do Universo, da vida humana e da atividade política. Quando não existe um fim superior para a vida humana, nenhuma atividade humana possui também finalidades superiores. A política torna-se apenas uma rede de tramas e conchavos visando a obtenção e a manutenção do poder. Esses fatos apenas nos renovam a tranquilidade de estarmos lutando nas trincheiras certas, por objetivos nobres, pela política ética fundada em princípios doutrinários inegociáveis. Por fim, nunca é demais transcrever o capitulo VI do clássico Manifesto Integralista de 1932, que já nos direcionava ao caminho da ética:

“Declaramo-nos inimigos de todas conspirações, de todas as tramas, conjurações, conchavos de bastidores, confabulações secretas, sedições. A nossa campanha é cultural, moral. educacional, social, às claras, em campo raso, de peito aberto, de cabeça erguida. Quem se bate por princípios não precisa combinar cousa alguma nas trevas. Quem marcha em nome das idéias nítidas, definidas, não precisa de máscaras. A nossa Pátria está miseravelmente lacerada de conspiratas. Políticos e governos tratam de interesses imediatos, por isso é que conspiram. Nós pregamos a lealdade, a franqueza, a opinião a descoberto, a luta no campo das idéias. As confabulações dos políticos estão desfibrando o caráter do povo brasileiro. Civis e militares giram em torno de pessoas, por falta de nitidez de programas. Todos os seus programas são os mesmos e esses homens estão separados por motivos de interesses pessoais e de grupos. Por isso, uns tramam contra os outros. E, enquanto isso, o comunismo trama contra todos. Nós pregamos a franqueza e a coragem mental. Somos pelo Brasil Unido, pela Família, pela Propriedade, pela organização e representação legítima das classes; pela moral religiosa; pela participação direta dos intelectuais no governo da República; pela abolição dos Estados dentro do Estado; por uma política benéfica do Brasil na América do Sul; por uma campanha nacionalista contra a influencia dos países Imperialistas, e, sem tréguas, contra o comunismo russo. Nós somos a Revolução em marcha. Mas a revolução com idéias. Por isso, franca, leal e corajosa.”[6]




[1] SALGADO, Plínio. Quarta Humanidade. 2ª ed. In Obras Completas. 2ª ed., vol. V. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 17.
[2] SALGADO, Plínio. Quarta Humanidade. 2ª ed. In Obras Completas. 2ª ed., vol. V. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 98.
[3] veja.abril.com.br/noticia/brasil/pp-sela-apoio-a-haddad-em-sp - acessado em 20/06/2012.
[4] www.redebrasilatual.com.br/temas/politica/erundina-reage-mal-a-alianca-de-haddad-com-maluf-e-quer-desistir-de-ser-vice - acessado em 20/06.2012.
[5] www1.folha.uol.com.br/poder/1107563-intelectuais-ligados-a-pt-se-calam-sobre-alianca-com-maluf.shtml - acessado em 20/06/2012
[6] Ação Integralista Brasileira. Manifesto de Outubro de 1932. Cap. VI.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Integralismo, Revolução Interior e Atitude Cotidiana

Leonardo Matos
08 de Junho de 2012

É comum aos Integralistas meditar sobre a degradação moral que vitimou nossa sociedade com a adoção massiva de paradigmas materialistas na construção da vida política, social e até dos nossos conceitos filosóficos. Diante do que vemos, nos perguntamos: Onde está a Quarta Humanidade que faria a grande síntese das idades humanas, rumo à um futuro ético, moral e organizado? Onde se esconde o Homem Integral de que nos falou Plínio Salgado?

Infelizmente não encontraremos estes homens liderando a nação, em nosso governo, em nosso parlamento ou em nossos tribunais. Pelo contrário, o que observamos nesses lugares são atitudes absurdas como a do ex-ministro da justiça, o Sr. Márcio Thomaz Bastos que, após exercer o cargo mais importante do poder judiciário nacional, representando os mais altos ideais de justiça e legalidade da nação, teve a coragem mórbida de tornar-se advogado, em uma comissão parlamentar de inquérito, do Sr. Carlos Augusto de Almeida Ramos, mais conhecido como “Carlinhos Cachoeira”, um contraventor e corruptor, que personifica justamente o inverso de tudo qua a noção de justiça representa.

Muitos dirão, “ele é advogado e está em seu direito de trabalhar”; outros falarão, “qualquer homem tem direito a uma defesa justa e profissional quando é acusado”. Certamente, mesmo o mais cruel assassino tem direito a um julgamento justo e uma defesa jurídica eficaz. No entanto, não podemos considerar moral, ético, nem mesmo aceitável, um homem que a pouco tempo integrava a cúpula da justiça brasileira, defender um cidadão que está sendo investigado justamente por manter relações sombrias com integrantes dos poderes constituídos e auxiliar na corrupção dos “líderes” da nossa nação. E este é apenas um caso, dos mais recentes. Estou certo de que o leitor se lembrará de muitos outros.

Infelizmente assistimos hoje à muitas destas líderanças negativas. Temos pessoas com degradação ética, espírito frio e mentalidade genuinamente materialista governando a nação e guiando as massas desesperadas nas quais nosso povo se transformou. O brasileiro segue estas pessoas, não por crença em sua liderança ou em sua capacidade de mudança, mas por não lhe é apresentada outra opção; não lhe é apresentada outra forma de viver e de enxergar o mundo.

Onde então estes bons homens e mulheres então? Asseguro-lhes, caros amigos, para encontrá-los devemos olhar pra dentro! Para dentro de nossos núcleos e de nossas casas. Somos nós estas pessoas, e já é hora de assumir o nosso papel. Nosso povo precisa desesperadamente de bons lideres e nós devemos liderar nossos compatriotas de forma positiva.

Estamos acuados por uma civilização materialista, é verdade; adormecidos, diante do bombardeio de imoralidade e descrença que nos ataca e nos rodeia todos os dias. Mas o escudo do integralismo é forjado pelos golpes de seus inimigos! Como disse Plínio Salgado, “Indiferente à todos os martírios, [o integralismo] prossegue. Quanto mais o caluniarem, mais crescerá”. [1]

Mas em que consiste a nossa liderança positiva? O caminho mais eficaz é a ascendência moral sobre a maioria das pessoas. E a maneira mais sólida e mais acessível de demonstrar essa ascendência moral é o exemplo. O exemplo arrasta. Temos de buscar ser o ideal de ética e retidão de conduta que defendemos e propagandeamos.

Façamos de nossa doutrina um sacerdócio, em todas as áreas de nossa vida. Nossa conduta ética e moral diferenciada será um grito ensurdecedor para os nossos compatriotas, perdidos em meio a uma sociedade de valores degenerados. Vivamos a vida para a qual desejamos conduzir nosso povo e tenho certeza que será uma grata surpresa o numero de irmãos que nos imitará e nos seguirá. Plínio Salgado ja nos mostrou esse caminho quando escreveu o Manifesto Diretiva de 1945:

“Sob esse aspecto, sempre o denominamos [o integralismo] ‘revolução interior’, isto é, esforço de aperfeiçoamento de nossas almas. O integralista não somente tem o dever de ser bom pai, bom filho, bom esposo, bom irmão, bom amigo, bom profissional, bom patriota, mas deve procurar influir para que outros o sejam e o exemplo que der será o melhor dos convites.“[2]

Não existe nada que incomode mais um canalha do que uma pessoa íntegra, que aplica seus valores éticos em cada aspecto de sua vida cotidiana. A fé inquebrantável no que é correto e no futuro do Brasil, a consciência de sua espiritualidade direcionada para a nobreza, são atitudes que ferem de morte àqueles que já se deixaram degenerar pela civlização materialista.

Um fator que facilmente diferenciará o Homem Integral é a ponderação. Ponderação é um elemento sem o qual a liderança Integralista não será completa. Essa ponderação é que nos leva a tratar todos os homens com justiça, mesmo os nossos inimigos. É ela que nos faz pensar antes de manifestar uma opinião, escapando das armadilhas que armam para nos denegrir. Palavras mal colocadas em uma discussão podem ser uma grande arma para nossos oponentes.

Tenhamos em mente que não é fácil remar contra a maré. Uma maré que hoje arrasta ao comodismo, à imoralidade e à falta de ética na relações humanas. Mas são justamente essas fortes marés, que arrastam multidões aos valores degenerados do materialismo, que revelarão ao mundo que somos diferentes, pois permaneceremos em pé, onda após onda. Como Daniel, que foi jogado na cova dos leões e saiu ileso, nós sairemos também ilesos dessa cova de leões em que o materialismo transformou nossa sociedade.

O Mestre Jesus disse que as boas árvores seriam identificadas pelos seus frutos. Tornemos-nos então facilmente identificáveis! Com nossas atitudes, mostraremos o contraste inegável entre a civilização materialista, que ai está, e civilização espiritualista que queremos construir. Será esta a maior legitimidade de nossa liderança.

Por fim, devemos admitir que estamos também mergulhados nesse oceano de materialismo que cerca à todos, e somos, as vezes, influenciados por ele. No entanto, a maior virtude é a busca constante pelo aprimoramento moral, pelo auto-aperfeiçoamento, pela santidade. Muitas vezes nos surpreenderemos em condutas que podem parecer incoerentes ou incorretas, afinal somos humanos. Nesses momentos devemos ter a humildade de crescer, mudar e dar mais um passo em nossa Revolução Interior, para nos tornarmos cada vez mais Homens Integrais.

Batamo-nos então por nosso aprimoramento moral, ético e espiritual, e dessa forma, inevitavelmente lideraremos o nosso povo rumo ao futuro e à vitória.




[1] SALGADO, Plínio. Integralismo Perante a Nação. 2ª ed. In Obras Completas. 1ª ed., vol. IX. São Paulo: Editora das Américas, 1955, p. 382.
[2] SALGADO, Plínio. Integralismo Perante a Nação. 2ª ed. In Obras Completas. 1ª ed., vol. IX. São Paulo: Editora das Américas, 1955, p. 379.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A Cosmovisão Integralista

Leonardo Matos
04 de Junho de 2012

Introdução

Como já é usual, inicio este artigo frisando ao leitor, seja ele integralista ou não, que não pretendo falar em nome de todo o movimento integralista, nem em nome de suas organizações contemporâneas. Exprimo aqui a minha profunda interpretação da Doutrina do Sigma, e deixo aos milhares de integralistas pelo Brasil a missão de julgar se as idéias aqui contidas são condizentes com a nossa filosofia.

No dicionário, Cosmovisão é um “sistema de idéias e sentimentos acerca do universo e do mundo; concepção do mundo.” Desta maneira, pretendo apresentar aqui a Cosmovisão que a Filosofia Integralista adota e que é o norte para os seus posicionamentos políticos e sociológicos.

O integralismo é bem mais que uma ideologia política. É um movimento filosófico que propôe uma concepção de universo própria e que, a partir dela, constrói a sua estrutura ideologica nos campos político e sociológico. A Cosmovisão Integralista parte de um pressuposto básico: a preeminência do espírito sobre a matéria; a Concepção Espiritualista do universo e consequentemente da história humana.

Para compreender a concepção integralista, precisamos compreender também a sua antítese, a concepção materialista do universo, a qual adota um pressuposto inverso: as contingências materiais determinam a consciência humana e a história da humanidade.

Ao estudar a doutrina integralista é importante compreender como a adoção de um ou de outro ponto de vista, influencia os rumos da humanidade e porque é decisiva para determinar o papel que o Ser Humano assume na marcha histórica.

A Concepção Materialista do Universo

A concepção materialista do universo determina que tudo é matéria e todas as coisas são consequências das contingências materiais. O materialismo faz da realidade à nossa volta uma simples combinação de movimentos dos átomos e moléculas, sendo a consciência, a personalidade, os sentimentos, os instintos, a vontade, etc, meros resultados destas combinações. Como escreveu Plínio Salgado, o materialismo pressupôe que “no começo existiu apenas a matéria, depois veio a vida, finalmente a ideia e, em ultimo plano, o espírito, o qual não passa de um clarão da matéria”.[1]

O reflexo desta concepção, no campo filosofico (e consequentemente no político), é a certeza de que as condições materiais determinam as construções da consciência humana e que o Ser Humano se subordina à leis materiais que ele não pode controlar, as quais atuam inclusive na marcha histórica da humanidade.

Negando a preeminência da consciência sobre a matéria, nega-se a possibilidade da consciência humana interferir na macha histórica, relegando o Ser Humano ao papel de assistente impotente dos acontecimentos históricos. É, em ultima análise, como citou Plínio Salgado o reconhecimento da “incapacidade de ação da inteligência humana em face do desenvolvimento cego das forças materiais da sociedade”. [2]

O materialismo nega a existência de finalidade à vida humana. Ao considerar o Ser Humano como um conglomerado de átomos, que se organizam em moléculas para originar as proteínas que dão base à vida, a visão materialista nega que a existência do Ser Humano tenha alguma finalidade superior. Dentro dessa concepção, o “animal humano”, sem finalidade, torna-se uma espécie mecânica e vazia de sentido, cujo único objetivo é o de transmitir seus genes às gerações futuras, em um quadro melancolicamente darwiniano.

A Civilização construída sobre as bases materialistas

Se costuma falar em Civilização Cristã para designar a sociedade ocidental. Isso, no entanto, deixou de ser uma realidade. Após mais de dois séculos de propaganda e agenda materialista no ocidente, não se pode mais se falar em Civilização Cristã ou em Sociedade de Bases Espiritualistas. O que existe hoje é uma civilização materialista na qual, mesmo os fenômenos religiosos, não atuam no sentido de reformar o Ser Humano sendo, muitas vezes, mais uma manifestação do capitalismo desenfreado. Podem sim existir focos de espiritualidade, porém não se pode mais falar em Civilização Cristã ou mesmo em Civilização Espiritualista que ainda possa “ser salva”.

A atual “civilização” ocidental já não tem quase nada de cristã ou de espiritualista, e é contra ela que o integralismo se levanta. Trata-se de uma sociedade extremamente materialista e capitalista, proveniente do espírito burguês individualista. Foi construída sobre os pilares do interesse e do egoísmo. Não é mais uma Civilização em seu sentido superior, cultural ou espiritual. Tornou-se uma supervalorização do sistema econômico, formando oligarquias mal intencionadas, monopólios econômicos destrutivos e conglomerados de grandes corporações sem pátria que utilizam a mídia de massa para propagar seus valores.

Plínio Salgado escreveu, no livro “Espírito da Burguesia” sobre essa mentalidade burguesa que hoje permeia todas as classes e setores da nossa sociedade. Eu suas palavras:

“O espirito da burguesia vive em tôdas as classes. Está na classe média, tão forte como nos círculos sociais dos ricos; está na própria alma do proletariado, quando se deixa penetrar pelos argumentos materialistas, que embasam a vida humana em nossos dias. À esse espírito chamamos hoje de ‘burguesismo’ pelo fato de ser a burguesia quam comanda os rumos disso à que temos convencionado chamar de civilização.” [3]

E o fundador da filosofia integralista completa dizendo: “como adversário leal e franco da doutrina marxista, ouso dizer que o comunismo não é o mal do século, porque antes dele existe um outro mal, de que ele se origina. Esse mal é o espírito burguês”. [4]

Sob esse ponto de vista, não podemos nem mesmo rotular o Integralismo como “conservador”, ao menos não no sentido político da palavra, pois a doutrina do sigma não pretende conservar os valores materialistas dominantes; não objetiva a conservação de um sistema capitalista opressor nem de governos corruptos que agem contra os interesses, as necessidades e os valores de seu próprio povo.

Nesse aspecto, o Integralismo jamais foi “conservador” mas sim revolucionário, e no sentido mais profundo da palavra. Não se levantou contra um sistema político ou econômico, se levantou contra a própria Concepção de Universo que originou todos os sistemas políticos e econômicos que conhecemos.

A Cosmovisão Integralista

A dicotomia existente nos dias de hoje, não é a artificial dicotomia da “direita” contra a “esquerda”, nem tampouco o embate entre “comunistas” e “capitalistas”, posto que essas dicotomias são meras criações da mesma Civilização Materialista. A dicotomia reconhecida na Cosmovisão Integralista é a dicotomia entre a “concepçao espiritualista” e a “concepção materialista” do universo. Aliás, Plínio Salgado foi claro ao nos apontar qual é a real dicotomia existente em nosso mundo. Ele escreveu:

“Chamaremos, para caracterizar de maneira mais clara, ‘espiritualistas’ à todos que consideram o Homem como um Ser composto de corpo e alma, com uma finalidade extraterrena, que cumpre atingir mediante finalidades terrenas, as quais, por conseguinte, não passam de meios adequados e indispensáveis para a obtenção do objetivo, relacionado com o fim último. E chamaremos de ‘materialistas’ a quantos considerem o homem segundo um, ou alguns dos seus aspectos relativos à temporalidade da sua existência terrena, com exclusão de tudo o que ultrapassa o espaço de uma limitada trajetória meramente biológica.” [5]

Em rebelião contra a escravização do Homem, sob o jugo das forças materiais, que arranca do Ser Humano o seu potencial criativo e transformador, o Integralismo brasileiro afirma a preeminência da Consciência Humana e do Espírito sobre a Matéria. Afirma a capacidade do Ser Humano criativo de alterar a marcha da história. Reconhece as contingências temporais da matéria, mas coloca a consciência como o fator determinante da realidade; estabelece a dualidade entre materia e espírito e a coloca sob o comando da criatividade da consicência.

A Cosmovisão Integralista vai além, defende que o Ser Humano é uma entidade dotada de “caractéres materiais, intelectuais e espirituais” [6], e que tem sua origêm em uma Consicência Superior, nela também encontrando a sua principal finalidade. Possuindo uma finalidade transcendente, que demanda do Ser Humano um empenho temporal no sentido de auto aperfeiçoamento, ou de “busca da santidade”, como diria a tradição cristã, o Homem se liberta da escravização que a matéria lhe impõe. Nesse contexto, todas as atividades humanas, incluindo a política, adquirem novos delineamentos e significados.

Ao afirmar a precendência do espírito sobre a matéria, consequentemente se considera o Ser Humano como anterior ao Estado e às construções sociais. Assim, a sociedade e o Estado são considerados manifestações da criatividade Humana e, como tal, devem servir ao Ser Humano.

A Cosmovisão Integralista considera que o Ser Humano é um Ser dotado de liberdades naturais, proveniêntes de sua própria essencia espiritual e não-material. Possui uma finalidade, a qual transcende as contigências materiais. Assim, consciênte de suas finalidades e consciênte também de que o Estado é uma manifestação de sua criatividade, o Ser Humano pode, de forma madura, construir um Estado ético, que não constitui um fim em si mesmo, mas uma ferramenta temporal a serviço de todos os Seres Humanos livres, para que possam atingir a sua finalidade superior.

Portanto, o Integralismo representa essa guinada corajosa nos destinos do povo brasileiro e da humanidade. Essa é a Cosmovisão Integralista da qual se conclui a suprema missão dos adeptos do Sigma. Como disse Plínio Salgado: “Em meio ao tropel cambaleante de um mundo que morre, escutamos já nitidamente os passos da Quarta Humanidade”. [7]







[1] SALGADO, Plínio. Quarta Humanidade. 2ª ed. In Obras Completas. 2ª ed., vol. V. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 92.
[2] SALGADO, Plínio. Quarta Humanidade. 2ª ed. In Obras Completas. 2ª ed., vol. V. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 63.
[3] SALGADO, Plínio. Espírito da Burguesia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1951, pp. 7-8.
[4] SALGADO, Plínio. Espírito da Burguesia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1951, p 10.
[5] SALGADO, Plínio. Espírito da Burguesia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1951, pp. 60-61 .
[6] SALGADO, Plínio. Quarta Humanidade. 2ª ed. In Obras Completas. 2ª ed., vol. V. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 110.
[7] SALGADO, Plínio. Quarta Humanidade. 2ª ed. In Obras Completas. 2ª ed., vol. V. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 79.