segunda-feira, 4 de junho de 2012

A Cosmovisão Integralista

Leonardo Matos
04 de Junho de 2012

Introdução

Como já é usual, inicio este artigo frisando ao leitor, seja ele integralista ou não, que não pretendo falar em nome de todo o movimento integralista, nem em nome de suas organizações contemporâneas. Exprimo aqui a minha profunda interpretação da Doutrina do Sigma, e deixo aos milhares de integralistas pelo Brasil a missão de julgar se as idéias aqui contidas são condizentes com a nossa filosofia.

No dicionário, Cosmovisão é um “sistema de idéias e sentimentos acerca do universo e do mundo; concepção do mundo.” Desta maneira, pretendo apresentar aqui a Cosmovisão que a Filosofia Integralista adota e que é o norte para os seus posicionamentos políticos e sociológicos.

O integralismo é bem mais que uma ideologia política. É um movimento filosófico que propôe uma concepção de universo própria e que, a partir dela, constrói a sua estrutura ideologica nos campos político e sociológico. A Cosmovisão Integralista parte de um pressuposto básico: a preeminência do espírito sobre a matéria; a Concepção Espiritualista do universo e consequentemente da história humana.

Para compreender a concepção integralista, precisamos compreender também a sua antítese, a concepção materialista do universo, a qual adota um pressuposto inverso: as contingências materiais determinam a consciência humana e a história da humanidade.

Ao estudar a doutrina integralista é importante compreender como a adoção de um ou de outro ponto de vista, influencia os rumos da humanidade e porque é decisiva para determinar o papel que o Ser Humano assume na marcha histórica.

A Concepção Materialista do Universo

A concepção materialista do universo determina que tudo é matéria e todas as coisas são consequências das contingências materiais. O materialismo faz da realidade à nossa volta uma simples combinação de movimentos dos átomos e moléculas, sendo a consciência, a personalidade, os sentimentos, os instintos, a vontade, etc, meros resultados destas combinações. Como escreveu Plínio Salgado, o materialismo pressupôe que “no começo existiu apenas a matéria, depois veio a vida, finalmente a ideia e, em ultimo plano, o espírito, o qual não passa de um clarão da matéria”.[1]

O reflexo desta concepção, no campo filosofico (e consequentemente no político), é a certeza de que as condições materiais determinam as construções da consciência humana e que o Ser Humano se subordina à leis materiais que ele não pode controlar, as quais atuam inclusive na marcha histórica da humanidade.

Negando a preeminência da consciência sobre a matéria, nega-se a possibilidade da consciência humana interferir na macha histórica, relegando o Ser Humano ao papel de assistente impotente dos acontecimentos históricos. É, em ultima análise, como citou Plínio Salgado o reconhecimento da “incapacidade de ação da inteligência humana em face do desenvolvimento cego das forças materiais da sociedade”. [2]

O materialismo nega a existência de finalidade à vida humana. Ao considerar o Ser Humano como um conglomerado de átomos, que se organizam em moléculas para originar as proteínas que dão base à vida, a visão materialista nega que a existência do Ser Humano tenha alguma finalidade superior. Dentro dessa concepção, o “animal humano”, sem finalidade, torna-se uma espécie mecânica e vazia de sentido, cujo único objetivo é o de transmitir seus genes às gerações futuras, em um quadro melancolicamente darwiniano.

A Civilização construída sobre as bases materialistas

Se costuma falar em Civilização Cristã para designar a sociedade ocidental. Isso, no entanto, deixou de ser uma realidade. Após mais de dois séculos de propaganda e agenda materialista no ocidente, não se pode mais se falar em Civilização Cristã ou em Sociedade de Bases Espiritualistas. O que existe hoje é uma civilização materialista na qual, mesmo os fenômenos religiosos, não atuam no sentido de reformar o Ser Humano sendo, muitas vezes, mais uma manifestação do capitalismo desenfreado. Podem sim existir focos de espiritualidade, porém não se pode mais falar em Civilização Cristã ou mesmo em Civilização Espiritualista que ainda possa “ser salva”.

A atual “civilização” ocidental já não tem quase nada de cristã ou de espiritualista, e é contra ela que o integralismo se levanta. Trata-se de uma sociedade extremamente materialista e capitalista, proveniente do espírito burguês individualista. Foi construída sobre os pilares do interesse e do egoísmo. Não é mais uma Civilização em seu sentido superior, cultural ou espiritual. Tornou-se uma supervalorização do sistema econômico, formando oligarquias mal intencionadas, monopólios econômicos destrutivos e conglomerados de grandes corporações sem pátria que utilizam a mídia de massa para propagar seus valores.

Plínio Salgado escreveu, no livro “Espírito da Burguesia” sobre essa mentalidade burguesa que hoje permeia todas as classes e setores da nossa sociedade. Eu suas palavras:

“O espirito da burguesia vive em tôdas as classes. Está na classe média, tão forte como nos círculos sociais dos ricos; está na própria alma do proletariado, quando se deixa penetrar pelos argumentos materialistas, que embasam a vida humana em nossos dias. À esse espírito chamamos hoje de ‘burguesismo’ pelo fato de ser a burguesia quam comanda os rumos disso à que temos convencionado chamar de civilização.” [3]

E o fundador da filosofia integralista completa dizendo: “como adversário leal e franco da doutrina marxista, ouso dizer que o comunismo não é o mal do século, porque antes dele existe um outro mal, de que ele se origina. Esse mal é o espírito burguês”. [4]

Sob esse ponto de vista, não podemos nem mesmo rotular o Integralismo como “conservador”, ao menos não no sentido político da palavra, pois a doutrina do sigma não pretende conservar os valores materialistas dominantes; não objetiva a conservação de um sistema capitalista opressor nem de governos corruptos que agem contra os interesses, as necessidades e os valores de seu próprio povo.

Nesse aspecto, o Integralismo jamais foi “conservador” mas sim revolucionário, e no sentido mais profundo da palavra. Não se levantou contra um sistema político ou econômico, se levantou contra a própria Concepção de Universo que originou todos os sistemas políticos e econômicos que conhecemos.

A Cosmovisão Integralista

A dicotomia existente nos dias de hoje, não é a artificial dicotomia da “direita” contra a “esquerda”, nem tampouco o embate entre “comunistas” e “capitalistas”, posto que essas dicotomias são meras criações da mesma Civilização Materialista. A dicotomia reconhecida na Cosmovisão Integralista é a dicotomia entre a “concepçao espiritualista” e a “concepção materialista” do universo. Aliás, Plínio Salgado foi claro ao nos apontar qual é a real dicotomia existente em nosso mundo. Ele escreveu:

“Chamaremos, para caracterizar de maneira mais clara, ‘espiritualistas’ à todos que consideram o Homem como um Ser composto de corpo e alma, com uma finalidade extraterrena, que cumpre atingir mediante finalidades terrenas, as quais, por conseguinte, não passam de meios adequados e indispensáveis para a obtenção do objetivo, relacionado com o fim último. E chamaremos de ‘materialistas’ a quantos considerem o homem segundo um, ou alguns dos seus aspectos relativos à temporalidade da sua existência terrena, com exclusão de tudo o que ultrapassa o espaço de uma limitada trajetória meramente biológica.” [5]

Em rebelião contra a escravização do Homem, sob o jugo das forças materiais, que arranca do Ser Humano o seu potencial criativo e transformador, o Integralismo brasileiro afirma a preeminência da Consciência Humana e do Espírito sobre a Matéria. Afirma a capacidade do Ser Humano criativo de alterar a marcha da história. Reconhece as contingências temporais da matéria, mas coloca a consciência como o fator determinante da realidade; estabelece a dualidade entre materia e espírito e a coloca sob o comando da criatividade da consicência.

A Cosmovisão Integralista vai além, defende que o Ser Humano é uma entidade dotada de “caractéres materiais, intelectuais e espirituais” [6], e que tem sua origêm em uma Consicência Superior, nela também encontrando a sua principal finalidade. Possuindo uma finalidade transcendente, que demanda do Ser Humano um empenho temporal no sentido de auto aperfeiçoamento, ou de “busca da santidade”, como diria a tradição cristã, o Homem se liberta da escravização que a matéria lhe impõe. Nesse contexto, todas as atividades humanas, incluindo a política, adquirem novos delineamentos e significados.

Ao afirmar a precendência do espírito sobre a matéria, consequentemente se considera o Ser Humano como anterior ao Estado e às construções sociais. Assim, a sociedade e o Estado são considerados manifestações da criatividade Humana e, como tal, devem servir ao Ser Humano.

A Cosmovisão Integralista considera que o Ser Humano é um Ser dotado de liberdades naturais, proveniêntes de sua própria essencia espiritual e não-material. Possui uma finalidade, a qual transcende as contigências materiais. Assim, consciênte de suas finalidades e consciênte também de que o Estado é uma manifestação de sua criatividade, o Ser Humano pode, de forma madura, construir um Estado ético, que não constitui um fim em si mesmo, mas uma ferramenta temporal a serviço de todos os Seres Humanos livres, para que possam atingir a sua finalidade superior.

Portanto, o Integralismo representa essa guinada corajosa nos destinos do povo brasileiro e da humanidade. Essa é a Cosmovisão Integralista da qual se conclui a suprema missão dos adeptos do Sigma. Como disse Plínio Salgado: “Em meio ao tropel cambaleante de um mundo que morre, escutamos já nitidamente os passos da Quarta Humanidade”. [7]







[1] SALGADO, Plínio. Quarta Humanidade. 2ª ed. In Obras Completas. 2ª ed., vol. V. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 92.
[2] SALGADO, Plínio. Quarta Humanidade. 2ª ed. In Obras Completas. 2ª ed., vol. V. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 63.
[3] SALGADO, Plínio. Espírito da Burguesia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1951, pp. 7-8.
[4] SALGADO, Plínio. Espírito da Burguesia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1951, p 10.
[5] SALGADO, Plínio. Espírito da Burguesia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1951, pp. 60-61 .
[6] SALGADO, Plínio. Quarta Humanidade. 2ª ed. In Obras Completas. 2ª ed., vol. V. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 110.
[7] SALGADO, Plínio. Quarta Humanidade. 2ª ed. In Obras Completas. 2ª ed., vol. V. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 79.

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